terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Tomei a decisão de fazer algo, de ir a algum lado.
Não há mais ninguém no meu quarto a não ser eu.
A Carolina disse. Aqui não há mais ninguém, aqui não vai acontecer nada. E eu sou muito boa, a Carolina disse. E eu tenho de ir a algum lado, fazer alguma coisa. Sim, foi o que a Carolina disse.
É verdade e eu não percebo como é que demorei tanto tempo até perceber.
Medo? Medo de quê? De quem?
Tiraram-me a rede de segurança mas eu vou saltar na mesma. Senão fico aqui, sozinha. E isso não pode ser. A Carolina disse que isso não pode ser.
Mas tenho, tenho medo. Não sei bem do quê, não sei bem de quem. A Carolina diz que eu sei. E até sei, mas não sei bem o quê.
Não sei porque é que isto foi tudo assim, sinceramente, não sei. My 15 year old self ia estar muito chateada com esta merda toda. Mas chega, a culpa não foi minha. Não fui menos do que podia ter sido, não dei menos do que podia ter dado. Se alguém não ficou satisfeito, well too fucking bad.
4 línguas e 3 instrumentos. Não é isso, disse a Carolina.
Mas é qualquer coisa, eu sei que sim. É um grande coração de ouro, com buraquinhos, mas sara. Se não sara hoje sara amanhã.
Só sei que não mereço, nem nunca mereci nada desta ingratidão.
Eu disse, Shakespeare disse:
Seja! Então que a tua sinceridade seja o teu dote. Abdico de todo o meu carinho, e doravante, hás de ser para sempre uma estranha ao meu coração e a mim. Encontre eu paz no túmulo como aqui lhe retiro o coração. Que esse orgulho a que ela chama franqueza case com ela! Que todas as vinganças acumuladas nos céus se abatam sobre a sua cabeça ingrata! Ingratidão! É como se a boca mordesse a mão que a alimenta! Melhor seria que nunca tivesses nascido!
E a Luciana disse para eu repetir, e eu chorei, e chorei e disse: Melhor seria que nunca tivesses nascido!
É.
Era suposto eu perdoar, mas não faço ideia como. Não sei como se perdoa uma coisa destas, simplesmente não sei.
Dizem que o estado mais profundo do inferno, destinado aos mais ímpios traidores, não é quente mas sim gelado.
E agora?

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