sábado, 22 de junho de 2013

Só tu, meu bem, me arrebatas
A vontade, o pensamento
Vivo de ver-te e de amar-te,
E detesto o fingimento


Vai sempre avante a paixão,
Buscando seu doce fim
Os amantes são assim:
Todos fogem à razão


Um tímido pudor activos fogos
Contrariava em vão, em vão retinha
Ignotos medos, sôfregos desejos
Suspensa e curiosa, eu esperava
 

Por entre a chuva de mortais peloiros
A nua fronte enriquecer de loiros
Eu procuro, eu desejo,
Para teus mimos desfrutar sem pejo,
Pois quem deste esplendor se não guarnece,
Não é digno de ti, não te merece


Dos homens ignoras
A índole errante?
Quem é muito amado
Não é muito amante


Amor em sendo ditoso
Costuma ser imprudente,
E nos gestos de quem ama
Logo o vê quem o não sente.
 


Meus pensamentos se apuram,
Apuram-se os meus desejos
No ténue filtro celeste
De teus espontâneos beijos.
 

Ó Céus! Que sinto n'alma! Que tormento!
Que repentino frenesi me anseia
Que veneno a ferver de veia em veia
Me gasta a vida, me desfaz o alento

Tal era, doce amada, o meu lamento
Eis que esse deus, que em prantos se recreia,
Me diz: "A que se expõe quem não receia 
Contemplar Ursulina um só momento!

Insano! Eu bem te vi dentre a luz pura
De seus olhos travessos, e cum tiro
Puni tua sacrílega loucura:

De morte, por piedade hoje te firo
Vai pois, vai merecer na sepultura
À tua linda ingrata algum suspiro."

terça-feira, 11 de junho de 2013

Já com ténue clarão, já quase escura
A nocturna Diana o céu volteia,
sobre o Tejo azul, que mal prateia,
Vai duplicando a trémula figura:

Aura subtil nas árvores murmura,
No lago adormecido a rã vozeia,
Mocho importuno agouros mil semeia,
Dentre as umbrosas moitas da espessura:

Letárgico vapor Morfeu derrama,
Com que insinua um doce desalento
No livre coração de quem não ama:

Triste de mim! Se repousar intento
Os olhos me abre Amor, Amor me inflama,
E Anália me persegue o pensamento.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

"Os sonhos com ela são bizarros mas sinto-me mais viva do durante os apáticos penosos dias no teatro.
É longe, tão longe. Ela está tão longe. Tão longe que nem um avião contruído com a licensa serve para lá chegar.
Eu tento fazer chegar a ela os meus pensamentos quando para ambas anoitece, tal como ela invade os meus, noite após noite.
De dia, sou uma louca anestesiada que procura e encontra os seu rosto por entre a multidão. Apenas para a noite de novo me relembrar da sua indefenida ausência e da incontável distância que nos separa.
Hoje, como tantas outras vezes, é o lado esquerdo que escolho, mas as minhas mãos pedem o corpo que aqui pertence.
Naquele último abraço, deixei-a ir mais cedo do que aquilo que achei precisar.
Sabendo o que agora sei, ela ainda estaria aqui."

Escrevi isto ontem antes de saber as notícias que o dia de hoje trazia.
Paris está cada vez mais distante e eu não pareço importar-me. Temos assuntos pendentes para tratar e serão resolvidos onde as questões foram primeiramente colocadas: aos poeirentos pés do senhor Flores.