terça-feira, 31 de outubro de 2017

A primeira vez que comi miso foi em França, num restaurante perto de minha casa, e não sendo Bailly Almada, o único estabelecimento aberto onde por pouco mais de um euro poderia comer uma refeição quente sem ter de a cozinhar eu própria.
Algumas vidas mais tarde foi quando tu me perguntaste se eu sabia o que era e se poderia fazer para ti. Claro que respondi que sim. Por ti faria tudo, embora tu não o saibas.
Esperei pelas férias, e depois ainda pelas folgas, e fui com as minhas amigas ao mercado asiático do Martim Moniz. Tinha uma pequena ideia dos ingredientes que deveria comprar, e com a ajuda do senhor que lá estava, enchi um saco, acabando por gastar ainda além do que tinha planeado.
Nessa noite, fiz a primeira experiência para as minhas amigas. Meticulosamente, fiz uma enorme panela de sopa miso. Saiu perfeita. Perfeitamente nojenta. Tirei fotos, enviei-tas. As minhas amigas gozavam comigo por estar apaixonada por uma criança. Fiquei embaraçada, não pela tua idade, mas pela minha. Com o quão facilmente me havia apaixonado com aquela idade.
Não me lembro de quando é que isto aconteceu. A maior parte dos ingredientes que comprei ainda subsistem no frigorífico e na dispensa, embora agora pareçam já partes integrantes deles. Não verifiquei ainda os prazos de validade. Tenho medo que sejam denunciadores de há quanto tempo te amo cobardemente sem to confessar. Enquanto a tua minoridade foi desculpa, a culpa que eu sentia era menor. Agora já não há nada que me impeça de chegar a ti, ou pelo menos tentar. Excepto a minha própria cobardia.