terça-feira, 22 de maio de 2012

I said: I love you like the stars above, I love you 'til I die.


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza... 

Oh - stop

With your feet in the air...



É qualquer coisa por aí, Julieta.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

I got a job at the Nugget
And I saved thousand dollars for a brand new start
She said, "I didn't wanna do it
but I did it 'cause I didn't wanna break your heart"
The waiter whispered when he said we had to take the conversation to the parking lot
Please baby, please, Valentina, baby, you're the only thing I've got

Was it something I said or did?
Was it something that I should have kept hid?
If you leave me hanging I don't know what I'll do
It doesn't matter who's wrong or right
In the clear of the blue moon light
You got me on my knees, Valentina don't say it's true
This is not like you

sábado, 5 de maio de 2012

Nas Sombras III


Não acordei nem com cinco despertadores. Típico. A hora apertava e ela não queria deixar-me ir. Cheguei a pensar que tinha perdido tudo. 
Até que a vi.
Literalmente alada, toda vestida de branco. O anjo caído branco.
Nada, absolutamente nada. Prendi-me nos seus olhos e lábios e em como se expressavam.
Percebi, pelas palavras soltas que retia entre os meus pensamentos nos quais nós éramos as personagens, que para ela também assim o era.
A história do pintor e da rapariga de cabelos negros, não era outra senão a nossa.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Nas Sombras II


Por volta da meia-noite, os olhos dela tomaram finalmente forma. A expressão era felina, meio decidida e meio hesitante, problemática. Sim, estavam mesmo bem aqueles olhos. Erguendo-se para as sobrancelhas finas e elegantes, a poucos centímetros da cascata escura do cabelo.

Esticou o papel a todo o comprimento do braço para avaliar o progresso do esboço. Era complicado trabalhar sem a ter à sua frente, mas, por outro lado, nunca conseguiria desenhar na sua presença. Desde que chegara de Londres, não, desde que a vira pela primeira vez, tivera de ter cuidado para a manter sempre à distância.

Aproximava-se agora dele todos os dias e cada dia era mais difícil do que o anterior. Era por isso que se ia embora na manhã seguinte, para a Índia, para as Américas, não sabia para onde nem se importava. Qualquer sítio seria mais fácil do que estar aqui.

Inclinou-se de novo sobre o desenho, suspirou e usou o polegar para aperfeiçoar o beicinho traçado a carvão do seu lábio inferior polpudo. Este papel inanimado, cruel impostor, era a única forma de a levar com ele.

Então, endireitando-se na cadeira de couro da biblioteca, sentiu-a. Aquela pincelada de ardor na parte de trás do pescoço.

Ela.

A sua mera proximidade provocou-lhe uma sensação muito peculiar, como o tipo de calor que é emitido quando um pedaço de lenha se desfaz em cinza numa lareira. Soube, sem se virar: ela estava ali. Cobriu o retrato que gizava nos papéis encadernados que tinha sobre o colo, mas não podia escapar-lhe.

Os olhos demoraram-se no canapé estofado cor de marfim do outro lado da saleta, onde há apenas algumas horas ela surgira inesperadamente mais tarde do que o resto do grupo, num vestido de seda cor-de-rosa, para aplaudir a filha mais velha do anfitrião de ambos que se esmerara no cravo.

Lançou um olhar à janela, lá para fora para o alpendre, onde no dia anterior se aproximara sorrateiramente dele, com um punhado de peónias silvestres brancas na mão. Ainda pensava que a força que a atraía para ele era inocente, que os seus encontros frequentes no belveder eram meramente… coincidências felizes. Como era ingénua! Nunca lhe diria nada em contrário, o segredo era dele, arcaria com ele.

Ergueu-se e virou-se, os esboços pousados na cadeira de couro. E lá estava ela, comprimida contra a cortina de veludo cor de rubi no seu simples penteado branco. O cabelo negro soltara-se da trança. A expressão no rosto era a mesma que desenhara tantas vezes. Lá estava o fogo, a subir-lhe nas faces. Estava zangada? Inibida? Desejava ardentemente saber, mas não se atrevia a perguntar.

- O que está aqui a fazer? – Detectou a rispidez na sua voz e lamentou a brusquidão, sabendo que ela nunca entenderia.

- Eu…não conseguia dormir- tartamudeou ela, avançando na direcção da lareira e da sua cadeira. – Vi a luz no seu quarto e depois… – fez uma pausa, olhando para as mãos – o seu baú à porta. Vai a algum lado?

- Ia dizer-lhe… – Interrompeu-se. Não devia mentir. Nunca pretendera que ela ficasse a saber dos seus planos. Dizer-lho só tornaria as coisas piores. Já deixara as coisas chegar demasiado longe, na esperança que desta vez fosse diferente.

Ela acercou-se mais e os olhos detiveram-se no caderno de esboços.

- Estava a desenhar-me?

O tom sobressaltado recordou-lhe como era grande o fosso entre o que ambos compreendiam. Apesar de todas as horas que tinham passado juntos nestas últimas semanas, ela estava muito longe de vislumbrar a verdade que se escondia por trás da atracção que existia entre os dois.

Isso era bom, ou pelo menos era melhor para ela. Nos últimos dias desde que tomara a decisão de partir, lutara para se afastar dela. O esforço exigia tanto dele que, logo que ficava sozinho, tinha de ceder ao desejo reprimido de a desenhar. Enchera o caderno com páginas do seu pescoço arqueado, dos seus ombros de mármore, do abismo negro do cabelo.

Voltou a olhar para o esboço, não envergonhado por ter sido apanhado a desenhá-la, mas pior. Um arrepio gelado percorreu-o quando percebeu que a descoberta dela, a revelação dos seus sentimentos, a destruiria. Devia ter tido mais cuidado. Começava sempre assim.

- Leite quente com uma colher de sopa de melaço – murmurou, ainda de costas para ela.

Depois acrescentou com tristeza:

- Ajuda-a a dormir.

- Como sabia? Ora, é exactamente o que a minha mãe costumava…

- Eu sei - retorquiu, virando-se para a enfrentar.

O tom espantado da voz dela não o surpreendeu, porém não podia explicar-lhe como sabia, ou dizer-lhe quantas vezes lhe administrara esta mesma bebida no passado quando as sombras chegavam, como a abraçara até ela adormecer.

Quando lhe tocou foi como se algo o queimasse através da camisa, a mão dela pousada suavemente no seu ombro, fazendo-o arquejar. Ainda não se tinham tocado nesta vida e o primeiro contacto deixava-o sempre sem fôlego.

- Responda-me – sussurrou ela. – Vai partir?

- Sim.

- Então leve-me consigo – exclamou bruscamente.

Mesmo no momento certo, viu-a suster a respiração, desejando retirar o que dissera, aquela súplica. Observou a evolução das emoções a instalar-se no vinco entre os olhos. Sentir-se-ia impetuosa, depois desnorteada, a seguir envergonhada do seu próprio atrevimento. Fazia sempre isto e, demasiadas vezes anteriormente, cometera o erro de a consolar neste exacto instante.

- Não – sussurrou, recordando-se…recordando-se sempre…- Parto amanhã. Se se interessa um pouco por mim, não dirá nem mais uma palavra.

- Se me interesso por si – repetiu ela, quase como se falasse consigo mesma. – Eu…eu amo…

- Não.

- Tenho de dizê-lo. Eu…eu amo-o, tenho absoluta certeza e se partir…

- Se partir, salvo-lhe a vida. – Falou lentamente, tentando chegar a alguma parte dela que pudesse recordar-se. A lembrança estaria lá, enterrada algures? – Algumas coisas são mais importantes do que o amor. Não está a entender, mas tem de confiar em mim.

Os olhos dela fulminaram-no. Deu um passo atrás e cruzou os braços sobre o peito. A culpa desta atitude era sua também…Fazia sobressair sempre o seu lado desdenhoso quando falava com ela daquela maneira.

- Está a querer dizer que há coisas mais importantes do que isto? – desafiou-o, pegando-lhe nas mãos e puxando-as para o seu coração.

Oh, quem lhe dera ser ela e não saber o que aí vinha! Ou pelo menos ser mais forte do que era e conseguir fazê-la parar. Se não a fizesse parar, ela nunca aprenderia e o passado repetir-se-ia muito simplesmente, torturando-os a ambos, vezes sem conta.

O calor familiar da pele dela sob as suas mãos obrigou-o a inclinar a cabeça para trás e gemer. Estava a tentar ignorar o facto de ela se encontrar muito perto, de conhecer muito bem a sensação dos lábios dela nos seus, de se sentir tão ressentido por tudo isto ter de terminar. Mas os dedos dela eram tão leves nos seus. Sentia-lhe o coração a bater com tanta força através do tecido de algodão fino.

Ela tinha razão. Não havia mais nada senão isto. Nunca houvera. Estava prestes a ceder e a tomá-la nos seus braços quando lhe detectou a expressão nos olhos. Como se tivesse visto um fantasma.

Foi ela que se afastou, uma mão na testa.

- Estou a ter uma sensação esquisitíssima – sussurrou.

Não…seria já demasiado tarde?

Os olhos dela estreitaram-se tal como os desenhara no esboço e voltou a aproximar-se dele, as mãos no seu peito, os lábios entreabertos e expectantes.

- Diga-me que estou louca, mas juro que já aqui estive antes…

Então era mesmo demasiado tarde. Ergueu os olhos, a tremer e sentiu a escuridão a descer. Agarrou a última oportunidade de a aprisionar, de a abraçar com tanta força quanto ansiava há semanas.

Logo que os lábios dela se fundiram nos seus, ambos ficaram impotentes. O sabor a madressilva da boca dela entonteceu-o. Quando mais ela se comprimia contra ele, mais o seu estômago se agitava com a excitação e a dor daquilo tudo. A língua dela delineou a dele e o fogo entre eles ardeu mais brilhantes, mais quente, mais poderoso a cada novo toque, a cada nova exploração. Contundo, nada daquilo era novo.

A sala estremeceu. Uma aura à volta deles começou a cintilar.

Ela não reparou em nada, não estava consciente de nada, não compreendia nada para além do beijo que trocavam.

Só ele sabia o que estava prestes a acontecer, que companhia sombria estava preparada para atacar o seu reencontro. Apesar de, mais uma vez, não ser capaz de alterar o curso das suas vidas, sabia.

As sombras rodopiavam directamente por cima das suas cabeças. Tão próximas que poderia ter-lhes tocado. Tão próximas que se perguntou se ela conseguiria ouvir o que sussurravam. Viu a nuvem a passar-lhe pelo rosto. Por um instante, vislumbrou um lampejo de reconhecimento a crescer-lhe nos olhos.

Depois mais nada, absolutamente mais nada.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Nas Sombras I

- Onde estás?
- O quê?
- Onde estás?
- Porquê?
- Por nada, diz lá!
- O que foi? Estive até agora na escola a trabalhar, onde é que querias que eu estivesse?
- Esquece.
- Pára de me assombrar a vida. Estás outra vez a fazer os teus jogos de quem não tem mais nada para fazer, não é?
- Não. Passei perto da tua casa, queria saber se estavas por lá, só isso. Eu não jogo contigo.
- Porque é que eu haveria de estar em casa? Ao contrário de ti, eu vou à escola porque cumpro os meus compromissos. Cumpre também os teus de amiga e vai à escola amanhã para me veres actuar.
- Não precisas de falar assim comigo. Já há muito tempo que tenho planeado ir amanhã.
- É? Estás só a gozar. Tu odeias a escola.
- Sim. Mas amanhã eu vou, já decidi há muito tempo.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Isto é um teste? Achas mesmo que estás em posição para me testares a mim?
Meu amor, eu já tive a tua idade há muito tempo. Onde tu estás, já eu estive há muito tempo.
As brincadeiras que queres brincar eu já brinquei tanto que os brinquedos estão gastos e partidos e tu, se queres brincar comigo, também eu estou gasta e partida.
Eu quis brincar contigo, já havia algum tempo e tu pareceste-me fácil.
Mas meu amor, se é este o teu jogo eu vou pegar na minha bola e brincar com os mais crescidos.