quinta-feira, 5 de maio de 2016

Meu amor estou aqui sentadinha no teu sofá a escrever-te esta cartinha porque te amo muito. E estou aqui a ponderar como raio é que te vou levar os ovinhos! Quero que saibas que te amo muito e que não sou bruta de prepósito, sou uma besta desde nascença… sou um bichinho do mato. Tu és o contrário, és tão dócil e meiga para mim, só me fazes bem, enquanto eu te trato mal! Mas eu vou mudar este meu feitio de bichinho do mato porque o meu amor não merece ter uma namorada que é bichinho do mato, merece uma namorada meiga e dócil como o bebezinho (tu).
Foste embora nem á 1 hora e já estou cheia de saudades dos teus beijos, acreditas? É bom que acredites porque é mesmo verdade! Agora estou aqui a imaginar se a tua irmã entrasse qual seria a reação ao me ver?! E como tenho uma imaginação muito fértil imaginei ela a entrar mais a Tatiana, realmente o teu amor é muito parvinho… além de bichinho do mato, enfim.
Ainda estou a ponderar na situação dos ovos e está quase na hora de ir ter com a minha bebé, secalhar levo numa tanparware ou lá como se escreve. Mas não sei onde estão…. Acho que vou procurar e depois decido-me.
Vou lá e assim me despeço porque são 18:20 e ainda quero fumar um cigarro antes de ir. Amo-te, não muito, nem tanto…. Porque não existe quantidade que se adeque a tamanho sentimento. 



Para compensar o resto. Se vale a pena? Pelos vistos sim.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Odeio-te.

Não podia deixar passar este sentimento sem o registar. E mesmo que isto não saia exactamente claro ou de acordo com a realidade, se estás a ler isto e tens um animal preto que eu te ofereci então este texto é dirigido a ti.

É a milésima vez que estou a chorar baba e ranho por causa duma merda destas. Se te culpo? Parcialmente talvez. Sei que fui eu que me meti nisto, sei que fui eu que me deixei apaixonar por um bebé que não era meu.
Mas, contudo, no entanto, todavia, (repito-me porque é importante) metes-me nojo, enraiveces-me como nunca nada antes.
Não tens desculpa nenhuma, porque jurar e faltar com a palavra é traição. Eu também já tinha dito isto, não já?
E por muito que eu já soubesse que isto ia acontecer outra vez (da primeira não sabia, porque da primeira não sabia nada) não consigo deixar de me sentir indignada, traída e sobretudo frustrada pela sensação de impotência. Não posso fazer nada, e mesmo que pudesse não seria o mais correcto para ninguém.
Resta-me a mim chorar até esquecer, a eles custará muito menos. E tu, estimo bem que te fodas.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Escrita Criativa FLUL - 2016

Ela era uma amiga minha.

Pele branca como a neve
Cabelos negros como breu
Lábios vermelhos como sangue 
E olhos azuis como o céu

Quando nos conhecemos eu tinha catorze anos e ela teria uns quinze ou dezasseis. O pai, há muito falecido, deixou toda a fortuna à sua única filha. Mas o padrasto, esse filho da puta, embebedava-se. Batia na mãe e violava a miúda. Convenceu os tribunais a deixá-lo gerir a herança até ela cumprir os dezoito anos de idade. Era assim que a prendia. A mãe sabia de tudo, mas pelo dinheiro e pelo seu próprio couro, nunca teve coragem para tentar impedi-lo.

Quando nos conhecemos, éramos duas crianças ingénuas, mas não era assim que eu a via. Ela agia de maneira diferente comigo, empinava o nariz fumando o seu cigarro de filtro branco com os pulsos cobertos de marcas e cicatrizes. As minhas não eram visíveis de fora, as dela e toda a dor nela expiravam por todos os poros. Noite após noite, o cabrão adormecia sem saber que eu me esgueirava para o quarto dela. Ela falava como se já tivesse vivido tudo e eu idolatrava-a. Só hoje vejo o quão destruída ela estava. A química entre nós era incontornável, quebrou todas as barreiras lógicas e depois de uma noite em que as palavras foram o meio, cedemos.

Na noite em que dormimos juntas, foi apenas isso que aconteceu. Despimo-nos, partilhámos segredos e cicatrizes. Entrei tanto nela, deixei que ela entrasse tanto em mim até não saber bem onde começava ela e acabava eu. Chegada a manhã, fomos acordadas pela mãe dela. As roupas foram-me atiradas e fui indicada à saída num inglês do interior dos Estados Unidos.

Nessa semana chovia a potes, tanto que ainda hoje as nuvens cinzentas são como a sua presença a pairar sobre mim. Combinámos fugir. Não havia destino, nada mais importava agora que eu tinha encontrado alguém que me entendesse, e ela alguém que a protegesse daquele monstro. Eu prometi nunca mais largá-la. Nessa noite, o relógio parecia parado e o tempo teimava em passar. Os meus olhos pesavam, fechei-os para descansar a vista e quando voltei a abri-los já o sol espreitava timidamente por entre as brechas dos estores. Corri para casa dela mas dei de caras com a casa deserta. Prometeu que no dia do seu décimo oitavo aniversário entraria no primeiro avião para cá e levar-me-ia para o mais longe possível, e eu acreditei.

Chegou finalmente Janeiro. Nessa noite dormi com outra pessoa, alguém real. Pedi-lhe para não voltar mais. Prometi ser eternamente sua mas não podia deixar escapar aquilo que tinha nas mãos. Duas semanas depois encontraram o corpo. Foi junto ao lago, no campus da Universidade, heroína. Deixou um bilhete: E eu amo-te infinitamente, amor, não consegues ver que eu nunca estarei satisfeita?


Toda a sua vida foi marcada por depressão, abuso, autodestruição, confusão mental, crises de identidade, paixões intensas e mal terminadas e uma inocência que só eu conhecia. Lutas internas e externas com um passado que teimava em não passar. Um infinito mundo dentro de uma menina pequena com olhos grandes e um sorriso arrebatador. Nunca ninguém me tinha marcado como ela. Nem mesmo as pessoas reais que por mais que tentem e queiram nunca sentiram na pele aquilo que eu e ela vivemos.