segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Poslúdio

Agressivamente, todos nós defendemos o papel que interpretamos.
Lamentavelmente, chegou a hora de te deixar ir.
Nós já vimos tudo,
Fogueiras de confiança e inundações de dor.
Na realidade não importa. Não te preocupes, vai tudo ficar bem.
Não, realmente não importa. Não te preocupes sobre nada disso.
Espero que tenhas apreciado a tua estadia.
Foi bom ter-te comigo,
Mesmo que tenha sido por apenas um dia.
Espero que tenhas apreciado a tua estadia.
Lá fora o Sol brilha,
Parece que o céu não está assim tão longe.
Foi bom ter-te comigo,
Mesmo que tenha sido apenas por um dia.

Interlúdio

Sabes? Eu não sei.
Gostava de saber, gostava de te dizer qualquer coisa mas perdi as palavras no dia em que me beijaste.
Estúpido, eu sei.
O problema reside no facto de não ter sido eu a única a ficar sem palavras.
Todos os dias, vejo alguém novo, vejo-te entregares-te a outra pessoa.
Deixas-te levar por belos estranhos e pelas juras que eles te fazem.
E tu acreditas, e tu vais. E tudo porque um dia alguém te partiu o coração.
Para quê?
Porquê?
Não consigo cuidar mais de ti. Por mais que tente tu foges-me por entre os dedos.
Outra e outra vez.

Prelúdio

Temi este dia durante meses.
Como se alguma coisa fosse mudar ou piorar ou magoar ainda mais, só por ser este dia.
Na verdade planeei este dia com antecedência.
Fácil, certo? Não, nada disso.
São dois dias. Há dois dias que respiro.
Não achas engraçado, dois dias antes de nós?
Eu achei.
Acho que nunca te cheguei a dizer, mas esta era a música que eu estava a ouvir quando me deixaste.
Hoje é a nossa música. Minha e dela.
Hoje, quando dei por mim, já era de noite e estavamos no carro, eu e a das baquetas.
Vindas da casa da ruiva de dezasseis anos que, bem, isso são outras histórias que ficam para outro dia.
Mas quando dei por mim, estava a dar esta música, e eu, no carro com ela, outra vez ela, três anos depois. Dois dias depois.
Tive tanto medo. Aquele medo de ter medo, tu sabes.
Mas o dia passou e eu nem me apercebi.
Acho que apanhar ar fez-me mesmo muito bem.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A noite era calma
a chuva era intensa
uma fartazana
mas isso é sem ofensa
só eu e ela
naquele fartote
amor, prazer e eu mostrava o meu forte
com muita calma, com muito amor
ela na minha alma
e eu gritando por favor

Nunca me deixes
preciso de ti
o amor é uma loucura e tu precisas de mim
em qualquer altura em qualquer lugar
sinto a tua presença
até no meu olhar.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Desculpa.
Eu nunca quis, não foi algo que eu tenha querido.
Nunca foi algo que eu conseguisse controlar.
Não ao inicio, mas tu sabes que, tal como tu, eu tinha que sair, tinha que quebrar o ciclo.
E saí, às nossas custas.
Como quem vem à tona para respirar, os meus lábios nos dela foram o meu suspiro depois de tanto sufoco, cortando-te a respiração, depois de tu me teres tirado o ar a mim.
Depois é história. É diz que disse, é diz que viu.
Pensei mesmo, acreditei mesmo que a minha palavra valia mais que todas.
Era mentira, não era?
Já não valia.
Não tenho mais desculpas, não tenho mais argumentos.
Tudo o que aconteceu foi inevitável.
O destino estava escrito desde o dia em que os céus o gritaram.
Por isso desisto. Deixo-o nas suas mãos outra vez, até agora nunca me falhou antes.
A verdade surgirá na altura, e quando tu engolires as tuas palavras, eu ponho o meu ponto final.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta que dissesse
deste anseio de te ver
deste receio de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo toda entregue.

Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti.
dos teus lábios vermelhos
dos teus cabelos ruivos
dos teus olhos doces
do teu andar
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí.

Eu queria escrever-te uma carta amor,
que recordasse os nossos tempos
as nossas noites perdidas
que recordasse a loucura da nossa paixão
e a amargura da nossa separação.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Dez coisas que odeio em ti

Odeio a tua maneira de falar
E a maneira como cortas o teu cabelo
Odeio a maneira como conduzes
E quando ficas a olhar para mim
Odeio as tuas botas
E odeio quando lês os meus pensamentos
Odeio-te tanto que me faz ficar doente
E até me faz rimar
Odeio que tenhas sempre razão
Odeio quando mentes
Odeio quando me fazes rir
E ainda mais quando me fazes chorar
Odeio quando não estás por perto
E quando te esqueces de telefonar
Mas mais do que tudo
Odeio o modo como não te odeio
Nem um pouco, nem por um bocadinho
Nem por nada.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Foi durante a noite que escrevi o poema. Acordei inquieto, estremunhado, fiquei numa sonolência lúcida e, aos borbotões, os versos, na imprevisibilidade do minério arrancado às trevas da mina, começaram a surgir à tona do silêncio, alguns já estremados, puros, outros ainda agarrados ao cascalho. Depois, a razão clarificadora acudiu à inspiração tumultuosa, britou, peneirou, lavou, ordenou, e as pepitas ficaram articuladas de tal maneira que acabaram por formar um todo coeso, harmonioso e autónomo:


No silêncio da noite em que eu te falo
Como através dum ralo
De confissão.
Auscultadores impessoais e atentos,
Os teus ouvidos são
Ermos abertos para os meus tormentos.

Sem saber o teu nome e sem te ver
- Juiz que ninguém pode corromper -
Murmuro-te os meus versos, os pecados,
Penitente e seguro
De que serás um búzio do futuro,
Se os poemas me forem perdoados.


No silêncio da noite em que eu te falo.


E assim tenho passado o dia com elas no ouvido, numa exaltação secreta, estranhamente optimista, menos vulnerável aos empurrões da multidão, feliz sem o dar a entender.