domingo, 21 de outubro de 2012

Não me apetece nada pensar nisto, apetece-me antes imaginar, oh sim, que uma coisa desconhecida extremamente fascinante está deitada e amarrada à minha frente e que eu vou abusar dela, e não me vai acontecer nada porque, em princípio, tudo é feito de comum acordo, embora entre parênteses, diga-se.
Mas sei que, na verdade, seria muito mais feliz se tivesse mesmo a mania de amarrar alguém e gozar com isso, ou cheirar à socapa a lingerie ou as meias dos outros e entregar-me a isso com tanta alma que me viesse só de pensar que ia cheirar, agora mesmo, uma coisa de outra pessoa, íntima... Seria muito mais feliz, mas não gosto dessas coisas, sou incapaz de me entusiasmar com coisas do género, e o que já percebi, de uma maneira geral, é que cada partícula do meu corpo está separada da outra e vive a sua própria vida, incompreensível para o resto do organismo... É tudo independente, e às vezes até há uma parte de mim que aterroriza outra, pois é...
Digamos que agora, a minha consciência escarnece de tudo o que devia dar-me prazer sexual, ou seja, estou a esfregar-me contra ela - e não tenho prazer nenhum, porque é como se estivesse dentro de um escafandro; e se tenho tesão e estou para me vir daqui a um minuto e meio - isso é tudo obra da velha memória, mas a cada acto terrorista da minha consciência, como este, encontro-me cada vez mais perto de esquecer tudo...
E a primeira coisa que me espera é ficar impotente, e depois ainda pior, e pior...
E se de repente deixar de gostar do cheiro da roupa de alguém, então vem o meu fim... Vem... Vem...

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