quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Máscara, Forma e Cinza I

- Não há outro. Vamos ter de enterrar o teatro por causa da cobardia de todos. Vou ter que dar um tiro em mim própria.
- Maria!
- Vou ter que dar um tiro em mim própria, para inaugurar o verdadeiro teatro, o teatro debaixo da areia.
- Maria...
- Como?
- Mas não posso. Seria a ruína. Seria deixar cegos os meus filhos e depois que faço com o público? Que faço com o público se tiro o parapeito da ponte? A máscara viria devorar-me. Vi uma vez um homem devorado pela máscara. Os jovens mais fortes da cidade, com lanças ensanguentadas, metiam-lhe pelo traseiro grandes bolas de jornais deitados fora, e na América houve uma vez um rapaz a quem a máscara enforcou pendurado pelos próprios intestinos.

Eu vou tirar a minha máscara e vou deixar-te entrar, assim sabendo que se ficares será pelo que há debaixo da areia.

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