Penso em ti sempre, pelo menos uma vez por ano.
Ou todos os dias, como dizem, com razão, todos os meus amigos. Ou pelo menos assim era até aparecer a Catarina. Mas a Catarina já não está em lado nenhum onde se possa ver ou sentir ou cheirar e tarde demais assim o é.
A Mariana diz que sofremos sempre o primeiro. A mim assusta-me o quanto ainda volto a ti quando tu já me riscaste da tua vida há tantos anos.
E se por um lado me sinto bem no papel do eterno e leal apaixonado, custa-me, mais que tudo nesta vida, sentir que não tenho maneira de escapar a este destino e que a ele estou presa para sempre.
Com mil caralhos.
Houve já tempos em que me achei fora da tua prisão, mas agora, Janeiro como há todos os anos, é como se fosse ouro caído num poço, que tem valor mas ninguém se atreve a tentar pegar.
Racionalmente, não busco e expilo todas as hipóteses, mas inconscientemente procuro, virando-me e tornando selvaticamente, gritando, pedindo uma mão, uma qualquer. Apenas uma disposta a tirar-me daqui e seguir o mesmo caminho que eu quero seguir.
Quando me farto e me deixo desabafar com os poucos ouvidos que restam para verdadeiramente me escutar, recebo respostas tranquilizadoras, crentes de que o poço não é assim tão fundo e que só não salto sozinha porque não quero, mas que se realmente esperar por ajuda, ela virá. Eu não acredito. Sinceramente, não.
Quando estava contigo, custava-me tanto compreender certas coisas, como o conformismo ou o divórcio. Como se o amor não fosse tão fácil e tão acessível e tão bom. Mas não é. Porra, não é mesmo nada. É um enorme bacamarte pelo cu acima.
Hoje tenho 24 anos, duas fucking dúzias. Brevemente terei 25, um quarto de século. É ridiculo achar e sentir que a minha vida já acabou mas cada vez me convenço mais que sim. Que acabou há já quase 5 anos e que não voltará a reerguer-se de maneira nenhuma. Faça o que fizer.